terça-feira, 8 de junho de 2021

A metamorfose de Kafka e o espírito do fracassado.

 


Primeiramente, um resumo:

    Gregor Samsa é um caixeiro-viajante (um profissional que anda de porta em porta com o mostruário de produtos de uma empresa) que trabalhara, trabalha e trabalharia duramente por mais cinco anos para pagar as dívidas de seu pai desempregado e sustentar com mordomias toda sua família, como tem feito por anos.     
    Mas por que trabalharia? Bom... um certo dia, ele acorda e se dá conta de que algo está diferente. Ao invés de suas pernas estendidas na cama, pequenas e muitas pernas, como gravetos, esticadas ao ar movem-se loucamente. Seu corpo transfigurado em algo fusiforme, com carapaça, asas e antenas. Um inseto. Samsa pensa ser um sonho e tenta voltar a dormir, mas não consegue e aceita a situação. Qual seu primeiro pensamento após isso? tente adivinhar, meu caro, jogo do milhão.
  1. "Como volto ao normal?"
  2. "Qual será a reação da minha família?"
  3. "Vou me atrasar para a escravidão emprego!"
    Se escolheu a opção 3 acabou de ganhar nada, mas acertou. Pouco tempo depois, sua família bate à porta cobrando perguntando o porquê dele não ter ido para o trabalho ainda. Talvez ele esteja doente. Não há espaço para conjecturas, o PRÓPRIO patrão aparece na casa cobrando por um atraso de 30 minutos, atraso de um funcionário de baixo escalão. Gregor extremamente preocupado com a situação consegue abrir a porta, assustando todos. Após isso, o livro se resume à família tentando se adaptar, leia-se "deixando ele num buraco fedido o dia todo". A única que tem um pingo de compaixão é a irmã, que leva lixo para Gregor comer.

    Quem não tem aquele primo, amigo que passa o dia inteiro sentado num computador, apertando teclas igual um hamster numa roda, que vive num quarto cheio de lenço, poeira, bagunça em todo lugar? Eu mesmo já fui essa pessoa. Talvez você que esteja lendo essa postagem seja Gregor, não se incomoda em ser tratado como menos, aliás, muitas vezes SE trata como menos. 
    Agora, você está pensando "Tá bom, Knight, seu canalha, para com essa masturbação mental de autoajuda, como eu saio dessa caralha?".
    Pense comigo, o que mantinha Gregor ali, no seu quarto? ele assustava todos, poderia facilmente fugir, mas tinha a falta de V-O-N-T-A-D-E, é isso que move o mundo, a vontade. Para despertá-la existem diversas formas, uma das melhores é analisar sua vida com total imparcialidade e frieza, ver a merda que você fez com ela: oportunidades perdidas, desperdício de tempo gigantesco com futilidades. Assim, paulatinamente, surge uma raiva, algo há muito dormente no seu âmago, que, aos poucos, te desperta a vontade. Isso aconteceu comigo e imagino que com a maioria das pessoas que buscam o desenvolvimento pessoal. 
    Não contei o final do livro propositalmente, ele é curto, leiam e vejam o que ocorre com um homem que perde a vontade, ou que nunca a teve.
    Portanto, aos colegas que deixaram o barco ultimamente, aos amigos leitores e a mim mesmo, que não sejamos como Gregor, não percamos a vontade, pois estaremos apenas desistindo de nós mesmos. 



Música de hoje



Esse post não finaliza o livro, recomendo que leiam o post do meu colega Sírius sobre a obra no blog dele, as postagens são complementares: https://bunkerdosirius.blogspot.com/2021/05/no-encalco-da-erudicao-2-patetico-ou.html

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